quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SETEMBRO - MÊS DA BÍBLIA



TEMA: TRAVESSIA – PASSO A PASSO O CAMINHO SE FAZ

LEMA: APROXIMAI-VOS DO SENHOR! (Ex 16,9)

Neste ano de 2011, somos convidados a refletir sobre o Livro do Êxodo do capítulo quinze (15) ao dezoito (18). Como sabemos o Livro do Êxodo, juntamente com os Livros de Gênesis, Levítico, Números e Deuteronômio, faz parte do que chamamos Pentateuco ou Torá, os cinco livros muito importantes para a religião judaica.
Nestes três capítulos do Êxodo, vamos encontrar o povo de Deus recém saído da escravidão do Egito, salvos por Moisés e atravessando o deserto. Hoje, o povo de Deus somos nós e em muitos momentos refletindo sobre o texto, vamos descobrir que vivemos, algumas vezes ou até inúmeras vezes, situações muito parecidas com as que o povo de Deus viveu no deserto.
O deserto é um tempo de mudança, de transformação. É na travessia do deserto que o povo de Deus ao mesmo tempo em que se desespera diante das dificuldades da travessia, se aproxima de Deus, reconhece a sua presença entre eles e se organiza como um povo.
Podemos destacar quatro momentos que servem de exemplo para os dias de hoje.
O primeiro momento acontece em Ex 15,22-27. A sobrevivência no deserto implica em achar água. A hidratação é fundamental. E a primeira dificuldade que o povo de Deus encontra é justamente esta: a água que encontram é “amarga”, isto é, não serve para beber. O povo reclama com Moisés, “murmuram”. Podemos imaginar que as pessoas começavam a duvidar da presença de Deus na sua caminhada. Moisés intercedeu pelo povo e Deus com simples gesto tornou a água boa para o consumo, mostrando que estava atento as suas necessidades, eles só precisavam crer, ter fé.
Água amarga, água impura, água poluída. Isto nos lembra a Campanha da Fraternidade deste ano. A luta pela preservação de nossas reservas deste líquido tão precioso para a sobrevivência de toda a natureza e da humanidade, luta esta que deve continuar.
Por outro lado, agimos algumas vezes como o povo de Deus. Diante de uma dificuldade, logo “murmuramos”, achando que Deus nos abandonou. Vacilamos na nossa fé, ficamos “amargurados”, duvidamos do seu amor e da sua misericórdia que sempre nos mostra uma saída, um caminho a seguir.
O segundo momento é quando povo de Deus teve fome: Ex 16,1-35. Desta vez, as reclamações foram muitas. Ficaram até com saudades da escravidão, pois lá não faltava o pão e a carne para saciar-lhes a fome. Novamente questionaram Moisés e este, mais uma vez intercedeu pelo povo e Deus atendeu as suas preces. Mas, para saciar a fome, o povo teria que cumprir algumas regras. Deus foi categórico: a tarde enviaria a carne (as codornizes) e pela manhã o pão (o maná). O povo só poderia colher o maná suficiente para um dia. Apenas no sexto dia colheria para o consumo de dois dias, pois o sétimo dia era de descanso. Mas alguns colheram mais do precisavam para um dia, provavelmente, por medo de não terem o que comer no dia seguinte, por duvidarem da palavra do Senhor, tentaram acumular, guardar. Mas, o maná que não foi consumido, que foi estocado, estragou. Aí veio o arrependimento. Lembram desses versos?

O povo de Deus, também vacilava
Às vezes custava, a crer no amor.
O povo de Deus, chorando rezava,
Pedia perdão e recomeçava.

Nós somos o povo de Deus hoje e na nossa caminhada somos tentados diariamente a estocar, guardar, comprar, acumular. Deixamo-nos levar, muitas vezes pela mídia, pelas promoções, pelas liquidações, compramos o que não precisamos no momento, e às vezes jogamos fora alimentos que não consumimos e que ficaram com o prazo de validade vencido. Isso sem falar na ambição dos poderosos que pensam unicamente em acumular riquezas, enquanto outros ficam cada vez mais pobres e excluídos da sociedade. Por outro lado, é bom lembrar que toda mudança, como o povo de Deus que saiu da escravidão em busca da liberdade, exige sacrifício, tem um preço e, algumas vezes não queremos pagar. Por isso, completando os versos acima nós podemos também cantar:

Também sou teu povo, Senhor
E estou nesta estrada.
Perdoa se às vezes,
Não creio em mais nada.

A nossa vida também é uma caminhada pelo deserto. Nunca sabemos com certeza se vamos encontrar um oásis com doze fontes de água cristalina e setenta palmeiras (Ex 15,27) ou um inimigo com o qual devemos lutar. Os problemas, as dificuldades, os conflitos surgem e temos que resolver. Algumas vezes não conseguimos resolver sozinhos, precisamos ter fé e a colaboração de outras pessoas. É o que aconteceu com o povo de Deus.
O terceiro momento da nossa reflexão acontece em Ex 17,8-16. Os amalecitas, um povo que habitava mais ao norte, veio lutar contra Moisés e seu povo. Moisés não se intimidou. Chamando Josué, mandou que escolhesse os homens e lutasse contra os amalecitas. Ele, Moisés, ficaria na colina junto com Aarão e Hur, com os braços erguidos e o cajado,
como em oração, pedindo a proteção do Senhor. No entanto, os braços de Moisés ficaram cansados e cada vez que ele deixava os braços caírem, os amalecitas ganhavam terreno e venciam Josué. Então, Araão e Hur, puseram Moisés sentado numa pedra e um de cada lado segurava seus braços erguidos para o céu. E assim, com a colaboração de Aarão e Hur que sustentaram os braços de Moisés, Josué conseguiu vencer os amalecitas, pondo-os em fuga.
Algumas vezes, nós precisamos que outras pessoas nos ajudem a enfrentar as dificuldades da nossa caminhada. Outras vezes, como Aarão e Hur, nós temos que ajudar o nosso próximo com a nossa fé, com a nossa amizade, com o que está ao nosso alcance, para que o outro possa também vencer os obstáculos do caminho.
Encontramos o quarto momento em Ex 18,13-27. Moisés, sendo o líder do povo, tinha constantemente que resolver os problemas, os conflitos que surgiam, fossem eles grandes ou pequenos. Podemos imaginar o quanto isto o desgastava. A solução veio de Jetro, sogro de Moisés, que fora encontrá-lo em companhia da mulher de Moisés e de seus dois filhos. Vendo todo aquele povo em pé, esperando para falar com Moisés sobre diversas questões, Jetro percebeu que em pouco tempo, tanto Moisés como povo, estariam desanimados e sem muita esperança. Aconselha, então, que Moisés escolha no meio do povo, “homens capazes, tementes a Deus, incorruptíveis, e os estabeleça como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta, chefes de dez, que julgarão o povo e só trarão a Moisés as causas mais importantes”. (Ex 18,21)
Desta maneira o povo de Deus foi criando um rosto, se organizando como nação, com um governo de responsabilidades distribuídas e sempre que necessário Moisés estaria pronto para interceder pelo povo junto a Deus. Nos capítulos 19 e 20 Deus, na sua infinita misericórdia, através de Moisés, fará uma Aliança com o seu povo, transmitindo o Decálogo, os Dez Mandamentos, para que o povo pudesse se orientar, unidos na mesma fé ao Deus único e verdadeiro – o Deus de Israel – o Deus de Jesus.
Delegar poderes, funções, partilhar responsabilidades, trabalhar visando um objetivo comum, para que a paz, o entendimento, a fraternidade, possa fazer a caminhada ser mais suave, mais amena, é o que nos ensina este trecho da nossa reflexão. Muitas vezes, sofremos a “síndrome de gerente geral do universo” achando que somente nós somos capazes de resolver todos os problemas, esquecendo que existem pessoas tão ou mais capazes que nós e que muito podem contribuir para o bom êxito de qualquer empreendimento. Mesmo dentro da nossa própria família, saber escutar o outro, é uma arte que devemos cultivar e aplicar esta arte em todos os nossos relacionamentos, revela sabedoria.
Muito mais nos ensinam esses capítulos do Êxodo. Deixo a todos uma sugestão: leiam com atenção e procurem nas entrelinhas outros exemplos em que caminhada do povo de Deus pelo deserto, pode nos ajudar na travessia da nossa vida e nos aproximar cada vez mais de Deus.

Valderês Costenaro