Ano da Fé: Vaticano divulga Carta Apostólica de Bento XVI
Leonardo Meira
Da Redação
Arquivo
''A porta da fé está sempre aberta para nós'', escreve o Papa na Carta
Apostólica
O Vaticano divulgou a Carta Apostólica com a qual o PapaBento XVI proclama o Ano da Fé. O documento, intitulado Porta
Fidei - A porta da Fé, foi assinado pelo Pontífice em 11 de outubro,
mas foi divulgado na manhã desta segunda-feira, 17.
"A PORTA DA FÉ, que introduz na vida de comunhão com Deus e
permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É
possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração
se deixa plasmar pela graça que transforma", indica o Santo Padre no
início do texto.
"Nesta perspectiva, o Ano da Fé é convite para uma
autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo",
salienta.
Acesse
.: NA ÍNTEGRA: Carta
Apostólica Porta Fidei, de Bento XVI
O Ano da Fé iniciará em 11 de outubro de 2012, no 50º aniversário de
abertura do Concílio Vaticano II, e terminará em 24 de novembro de
2013, Solenidade de Cristo Rei do Universo. "Será um momento de graça e de
empenho para uma sempre mais plena conversão a Deus, para reforçar a nossa fé
n'Ele e para anunciá-Lo com alegria ao homem do nosso tempo",
explicou o Papa durante a Missa de encerramento do Encontro Novos Evangelizadores
para a Nova Evangelização, que presidiu neste domingo, 16, na Basílica
Vaticana.
Bento XVI salienta que atravessar a porta da fé é embrenhar-se num
caminho que dura a vida inteira. "Este caminho tem início com o Batismo,
pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a
passagem através da morte para a vida eterna", indica.
De fato, desde o início de seu ministério como Sucessor de Pedro, o
atual Pontífice sublinha a necessidade de redescobrir o caminho da fé para
fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do
encontro com Cristo. "Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da
Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida,
oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos", adverte na Porta
Fidei.
Ano da Fé
Não é a primeira vez que a Igreja é chamada a celebrar um Ano
da Fé. Já o Servo de Deus Papa Paulo VI, em 1967, proclamou um ano
semelhante, para celebrar o 19º centenário do martírio dos apóstolos
Pedro e Paulo.
"Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com
o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião
propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres
Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, 'não perdem o seu
valor nem a sua beleza'. [...] Quero aqui repetir com veemência as palavras
que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para
Sucessor de Pedro: 'Se o lermos e recebermos guiados por uma justa
hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força
para a renovação sempre necessária da Igreja'", escreve Bento XVI na Carta
Apostólica divulgada nesta segunda-feira.
Em 11 de Outubro de 2012, além dos 50 anos da convocação do Vaticano II,
também se completarão 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado
pelo Beato Papa João Paulo II. Conforme Bento
XVI, este Ano deverá exprimir um esforço generalizado em prol da
redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo a
sua síntese sistemática e orgânica.
"Assim, no Ano em questão, o Catecismo da
Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé,
sobretudo para quantos têm a peito a formação dos cristãos, tão determinante no
nosso contexto cultural. [...] Com tal finalidade, convidei a Congregação
para a Doutrina da Fé a redigir, de comum acordo com os competentes Organismos da
Santa Sé, uma Nota, através da qual se ofereçam à Igreja e aos
crentes algumas indicações para viver, nos moldes mais eficazes e apropriados,
este Ano da Fé ao serviço do crer e do evangelizar",
revela.
Da mesma forma, será decisivo repassar a história da fé, que
faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. O Ano
da Fé também será uma ocasião propícia para intensificar o testemunho da
caridade. "A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé
seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se
mutuamente, de tal modo que uma consente à outra de realizar o seu
caminho. [...] Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais
firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar
o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro. [...] À Mãe de Deus,
proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc 1, 45), confiamos
este tempo de graça", escreve.
Arquivo
Bento XVI: "O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um
fato privado. A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele"
O Bispo de Roma convida também seus Irmãos Bispos
de todo o mundo a comemorar o dom precioso da fé. "Queremos celebrar
este Ano de forma digna e fecunda. Deverá intensificar-se a
reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais
consciente e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de
profunda mudança como este que a humanidade está a viver. Teremos oportunidade
de confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do
mundo inteiro, nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um
sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações
futuras a fé de sempre. Neste Ano, tanto as comunidades religiosas
como as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e
novas, encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo. Desejamos
que este Ano suscite, em cada crente, o anseio de confessara
fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança. Será uma
ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé
na liturgia, particularmente na Eucaristia. [...] Esperamos que o testemunho de
vida dos crentes cresça na sua credibilidade. Descobrir novamente os conteúdos
da fé professada, celebrada, vivida e rezada e refletir sobre o próprio
ato com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo
neste Ano".
Desafios
O Papa analisa que nos dias atuais, mais do que no passado, a fé
vê-se sujeita a uma série de interrogativos, que provêm de uma mentalidade
que reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e
tecnológicas. "Mas a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível
haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas tendem,
embora por caminhos diferentes, para a verdade", ensina.
Da mesma forma, o professar com a boca indica que a fé implica um
testemunho e um compromisso públicos. "O cristão não pode jamais pensar
que o crer seja um fato privado. A fé é decidir estar com o Senhor, para viver
com Ele. E este 'estar com Ele' introduz na compreensão das razões pelas quais
se acredita. A fé, precisamente porque é um ato da liberdade, exige também
assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita".
A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho
prestado pela vida dos crentes: "de fato, os cristãos são chamados a fazer
brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor
Jesus nos deixou", adverte.
Por fim, Bento XVI lembra que Jesus Cristo, em todo o tempo,
convoca a Igreja, confiando-lhe o anúncio do Evangelho, com um mandato que é
sempre novo.
"Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais
convicto a favor de uma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de
crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé. Na descoberta diária do seu
amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes, que jamais pode
faltar. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um
amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé
torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer
um testemunho que é capaz de gerar.[...] Só acreditando é que a fé cresce e se
revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida,
senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada
vez maior porque tem a sua origem em Deus".